📚 Referência: Gupta S, Glezerman IG, Hirsch JS, et al. Intravenous Magnesium and Cisplatin-Associated Acute Kidney Injury. JAMA Oncology ([link](https://jamanetwork.com/journals/jamaoncology/article-abstract/2833151)) 🔗
Caso clínico para aquecer:
Joana, 52 anos, foi diagnosticada com câncer de colo de útero localmente avançado. Seu oncologista optou por iniciar quimioterapia com cisplatina. Antes do tratamento, Joana tinha função renal normal e exames laboratoriais dentro da faixa de referência. Mas sua filha, que é médica residente, perguntou à equipe: “Vocês vão usar magnésio venoso? Li no nefroUpdates que pode proteger os rins da minha mãe!” J
Será que o magnésio EV faz diferença mesmo? Como usá-lo de forma segura e eficaz?
O que sabemos sobre a toxicidade renal do cisplatina?
O cisplatina é um dos quimioterápicos mais eficazes, mas carrega o fardo de ser nefrotóxico. A IRA associada a cisplatina pode surgir até 14 dias após a infusão e comprometer futuras opções terapêuticas. Tradicionalmente, usamos hidratação vigorosa para prevenção, mas... será que só isso basta?
Magnésio venoso: protetor tubular?
Estudos pré-clínicos já mostraram que a deficiência de magnésio favorece o acúmulo de platina nos túbulos renais, agravando a toxicidade. O magnésio parece estimular transportadores de efluxo (como MRP4 e MRP6) que ajudam a expulsar a platina do túbulo proximal — e com isso, menos lesão (legal, né? J )
Mas até agora faltavam dados em humanos. Faltavam...
O estudo multicêntrico que pode mudar nossa prática:
Este estudo liderado por Shruti Gupta e colegas avaliou 13.719 pacientes com câncer em 5 centros oncológicos dos EUA que iniciaram cisplatina IV entre 2006 e 2022. Destes, 28% receberam magnésio EV no mesmo dia da primeira dose do quimioterápico.
A dose mediana foi de 2g de magnésio EV.
E o que eles encontraram?
👉 Pacientes que receberam magnésio EV tiveram uma redução de 20% na chance de desenvolver lesão renal grave ou morrer em até 14 dias.
👉 A taxa de IRA associada a cisplatina foi de 2,7% com magnésio versus 5,3% sem.
👉 O efeito protetor foi ainda maior em mulheres, pacientes com TFGe ≥90 mL/min/1,73m² e níveis basais de magnésio entre 2,0–2,2 mg/dL.
Vale para todo mundo?
Nem todos se beneficiaram igualmente. Homens e idosos (>65 anos) não tiveram o mesmo impacto. E a proteção só foi clara em quem recebeu magnésio no dia da cisplatina ou nos 3 dias anteriores.
Ah, e o magnésio não causou eventos adversos significativos nos ensaios anteriores, ou seja, parece ser seguro sim!
Conclusão do NefroAtual:
Esse estudo muda o jogo? Ainda não é um ensaio clínico randomizado, mas é o melhor dado até agora sobre o uso preventivo de magnésio EV no contexto do cisplatina.
Se você atende pacientes oncológicos ou faz parte de equipes de oncologia, considere discutir o uso profilático de magnésio EV antes do cisplatina. É barato, seguro e pode proteger os rins, com boa ciência por trás J
E você? Já prescreveu magnésio EV como estratégia nefroprotetora no uso de cisplatina? Sabia desse mecanismo tubular tão interessante?
Vamos conversar sobre isso nos comentários!