📚 Pecoits-Filho R. et al. Kidney International Reports, 2025 [[link](https://www.kireports.org/article/S2468-0249(25)00179-2/pdf)]
Caso clínico para começar a conversa...
Dona Tereza, 67 anos, DM2 há mais de 20 anos, TFGe de 38 ml/min, albuminúria de 1.100 mg/g, pressão controlada com três antihipertensivos — mas nenhum bloqueador do sistema renina-angiotensina-aldosterona (iECA ou BRA). Motivo? “Ela já teve potássio de 5,6 uma vez, doutor”.
O colega ainda complementa: “E hoje tem medicações mais modernas, como finerenona ou os iSGLT2...”
Mas será que é hora de abandonar os pilares clássicos da nefro/cardioproteção? Ou será que ainda estamos errando ao esquecer o básico?
O que o artigo mostra?
Esse editorial é um chamado à ação da comunidade cardio-renal para uma verdade incômoda: a subutilização dos iECA, BRA e antagonistas de aldosterona em pacientes com DRC, IC e hipertensão continua sendo um problema sério — e global.
##### Por que isso ainda acontece, mesmo com tanta evidência?
Vamos por partes. O que você acha que mais leva à suspensão ou subdosagem dos iECA/BRA?
1-Medo da hipercalemia e da queda da função renal.
* Mas as diretrizes são claras: até 30% de aumento na creatinina e K+ até 5,5 geralmente são toleráveis e esperados.
* Interromper o tratamento diante de alterações discretas pode fazer mais mal do que bem.
2-Inércia terapêutica.
* Estudos mostram que apenas 25 a 45% dos pacientes atingem a dose-alvo de iECA/BRA.
* E mais de 10% têm a medicação suspensa sem justificativa clara, especialmente naqueles com TFGe <30 ml/min.
3-Falta de monitoramento estruturado.
* Monitorar K+ e creatinina em 1 a 2 semanas após iniciar ou aumentar dose é simples — mas negligenciado.
E os novos tratamentos? Eles substituem os antigos?
Não. O que o editorial deixa claro é que novas terapias como finerenona, iSGLT2, ARNi e até os quelantes de potássio se somam aos iECA/BRA — não os substituem.
problema não é a chegada de novas drogas.
É tentar usá-las sem antes fazer o beabá bem feito!
###### E o que fazer com o potássio? E com a creatinina que sobe?
A estratégia proposta no artigo inclui:
📍 Controle volêmico adequado (uso racional de diuréticos)
📍 Ajuste dietético do potássio (sem cair no radicalismo!)
📍 Evitar medicações desnecessárias como AINEs
📍 Uso de quelantes modernos como patiromer ou zircônio ciclossilicato, quando disponíveis
📍 Monitoramento proativo — e não reativo!
Esses cuidados permitem manter o tratamento com segurança, mesmo em TFGe <30 ml/min.
###### Ferramentas práticas para o dia a dia
O grupo liderado por Roberto Pecoits-Filho desenvolveu um toolkit prático com 5 ferramentas clínicas e educacionais para auxiliar na otimização da terapia com RAASi:
🔹 Básico do iSRAA
🔹 Como monitorar e manejar hipercalemia
🔹 Mitos e verdades da dieta pobre em potássio
🔹 Monitoramento de creatinina e função renal
🔹 Como conversar com o paciente sobre essas medicações
📌 Acesse gratuitamente [[link](https://www.theisn.org/initiatives/toolkits/raasi-toolkit)]

Mensagem final do NefroAtual
Não adianta termos finerenona, iSGLT2, GLP1 e o que mais vier pela frente, se o básico não for feito com excelência. iECA e BRA continuam sendo a espinha dorsal do cuidado cardio-renal. Suspender ou deixar de prescrever por medo ou inércia é um erro que custa caro — em eventos CV, progressão de DRC e mortalidade.
📢 Vamos voltar a fazer o feijão com arroz bem temperado, antes de pensar na cereja do bolo!! J
E você? Tem feito isso no consultório?
Já se viu deixando de usar iECA/BRA por medo da hipercalemia?
Comenta com a gente: você faz o básico com excelência ou também já escorregou nisso?