Um caso interessante ([disponível aqui](https://journals.lww.com/kidney360/fulltext/2024/01000/donor_kidneys_with_an_anatomic_anomaly_used_for.24.aspx)) para quem trabalha com transplante renal.
Uma mulher de 23 anos, sem histórico médico conhecido, morreu em um acidente de moto. A família a doação
de órgãos. O rim possuía KDPI de 19% com creatinina de saída de 0,8 mg/dL.
Um ótimo rim para transplante certo?
No entanto, o exame de imagem abdominal identificou presença de rim em ferradura. Será que tais rins deveriam
ser aceitos ou negados para o transplante renal?
Na avaliação da equipe transplantadora foi observado que cada porção tinha cerca de 9 cm de tamanho e estava fundida nos pólos inferiores por um istmo de 3 cm de largura (Figura 1A). Realizado ureterografia retrógrada
confirmou a separação dos sistemas coletores e ausência de uropatia obstrutiva.
Desta forma, os rins foram separados de forma meticulosa no back table (Figura 1B), feito de forma para transplantar dois pacientes diferentes (Figura 1C).

O primeiro receptor foi um homem de 61 anos com DRC por diabetes mellitus que fazia hemodiálise há cerca de 3
anos. A segunda receptora é uma mulher de 73 anos com DRC por hipertensão e que fazia hemodiálise há cerca de 4 anos.
Ambos os receptores evoluíram bem após o transplante, com função renal imediata e sem complicações, sem
sangramento, fístula ou hidronefrose.
Aprendizado com o caso
Os rins em ferradura são a anomalia de fusão renal mais comum, os portadores são frequentemente assintomáticos e são diagnosticados incidentalmente em imagens abdominais. Anormalidades vasculares e urológicas, como obstrução da junção ureteropélvica, são frequentemente observadas em indivíduos com rins em ferradura.
A utilização de rins em ferradura para transplante tem sido relatada desde a década de 1970. No entanto, tais rins frequentemente são evitados devido às anormalidades vasculares e urológicas associadas.
Atualmente nos deparamos com um cenário de escassez de órgãos para transplante. Logo, a redução das taxas de descarte de órgãos é fundamental para transplantar mais pacientes na lista de espera e assim melhorar a qualidade de vida dos portadores de DRC.
Com exame detalhado e preparação cuidadosa um rim em ferradura pode ser transplantado em bloco em um receptor ou, se anatomicamente viável, dividido para transplantar dois receptores.
Caso muito interessante para quem trabalha com transplanta renal!