Aortite em um transplantado renal: raro, mas com implicações importantes 
 O caso descrito por Muraoka et al. (Kidney360, 2025 - [link](https://journals.lww.com/kidney360/fulltext/2025/03000/an_unusual_cause_of_fever_and_chills_in_a_kidney.22.aspx)) relata uma apresentação incomum de febre em um receptor de transplante renal, cuja causa foi uma aortite infecciosa A seguir, os principais pontos clínicos são organizados para facilitar o aprendizado: 
 🩺 Descrição do caso clínico 
 Paciente: Homem, 49 anos, transplantado renal há 5 anos (doador vivo, ABO-incompatível) por nefropatia diabética. 
 Comorbidades: 
 * Diabetes mellitus tipo 2 descompensado (HbA1c: 17,2%) 
 * Doença arterial coronariana 
 * Hipertensão arterial 
 * Imunossupressão: Tacrolimo, micofenolato mofetil, metilprednisolona. 
 Apresentação clínica: 
 * Febre (38,5 °C), calafrios e taquicardia. 
 * Exame físico e urina sem alterações significativas. 
 * Exames laboratoriais: leucocitose (10.500 cel/mm³), PCR elevada, glicemia de 369 mg/dL. 
 * Exames de imagem sem achados específicos. 
 * Hemocultura positiva para Salmonella no 3º dia de internação. 
 * História de ingestão recente de ovo cozido comprado pronto e convivência com animal de estimação (cachorro). 
 Investigação complementar e diagnóstico 
 1. TC abdominal no 6º dia de investigação, sendo identificado um abaulamento focal da parede anterior da aorta abdominal com calcificação e “borramento da gordura peri-aórtica. 
 2. PET/CT (16º dia): Captação de FDG no mesmo local, confirmando inflamação ativa – diagnóstico: aortite infecciosa por Salmonella. 
 Achados de imagem na aortite infecciosa. (A) TC no 6º dia mostra abaulamento focal e calcificação da parede anterior da aorta abdominal, próxima à artéria mesentérica superior, com borramento da gordura ao redor (sinal de inflamação). (B) A PET/TC no 16º dia evidencia captação de fluorodeoxiglicose (FDG) na mesma região, indicando inflamação ativa. 
 💉 Conduta clínica e evolução 
 * Conduta conservadora: devido ao baixo risco de ruptura arterial. 
 * Antibióticos intravenosos  
 * Controle rigoroso da PA. 
 * Monitoramento por imagem seriada. 
 Desfecho: Quadro resolvido sem complicações. Alta com antibiótico oral para completar 8 semanas. Sem recorrência. 
 ✅ Sete aprendizados essenciais para o nefrologista 
 1. Suspeitar de causas vasculares raras em febre persistente, especialmente em transplantados com bacteremia por Salmonella. 
 2. Menos de 5% dos casos de infecção por Salmonella progridem para bacteremia. 
 3. Nos pacientes com aortite infecciosa, 40% são decorrentes de bacteremia por Salmonella 
 4. A combinação de imunossupressão e aterosclerose facilita infecções arteriais graves, como aortite. 
 5. PET/CT é ferramenta diagnóstica-chave para confirmação e acompanhamento de inflamação vascular em casos duvidosos. 
 6. Tratamento conservador pode ser eficaz em pacientes clinicamente estáveis, evitando intervenções cirúrgicas de alto risco. 
 7. Educação do paciente quanto à higiene alimentar e cuidados com animais de estimação é essencial na prevenção de infecções entéricas graves. 
 Resumo prático: 
 Este caso reforça a importância da vigilância clínica ampliada em pacientes transplantados, incluindo causas infecciosas vasculares. Para o nefrologista, trata-se de um alerta para considerar infecções incomuns diante de febre persistente. O uso de imagem funcional e a educação do paciente são elementos centrais na prevenção e no manejo eficaz desse tipo de complicação.