A descoloração de um cateter de diálise peritoneal costuma gerar alarme entre pacientes e equipe, pois é frequentemente associada a infecção ou falha do dispositivo. O relato de um caso de cateter roxo, no entanto, traz lições importantes sobre diagnóstico diferencial e a importância de uma abordagem cuidadosa.
📚 Referência: Vaidya P, Sparks MA. Kidney360. 2025;6:1422-1423. \[**[link](https://journals.lww.com/kidney360/fulltext/2025/08000/asymptomatic_patient_with_eskd_presenting_with_a.27.aspx)**] 🔗
**Caso Clínico**
Homem de 75 anos, em diálise peritoneal, percebeu uma coloração roxa no cateter ao se preparar para o banho. Estava assintomático, sem febre ou dor abdominal, e o líquido peritoneal estava claro. O exame físico foi normal, culturas foram negativas e a contagem celular do efluente foi de apenas 6 células/ml, descartando peritonite.
Figura. Descoloração roxa do cateter de diálise peritoneal. (A) Conjunto de transferência do cateter de DP com descoloração roxa. (B) Descoloração do cateter de DP presente proximalmente ao adaptador de titânio. (C) Líquido peritoneal claro drenado após permanência de 2 horas.
Na investigação, descobriu-se que o paciente havia começado a usar roupas térmicas pretas recentemente, lavadas apenas uma vez antes do uso. A uniformidade da coloração do cateter, associada à ausência de sinais inflamatórios, levou à hipótese de transferência de corante do tecido para o silicone do cateter. Após suspender o uso das roupas, a coloração desapareceu gradualmente.
**Aprendizados do Caso**
* **Sempre descartar infecção primeiro**: mesmo em casos de descoloração isolada, é essencial realizar contagem celular e culturas para excluir peritonite.
* **Investigar fatores externos:** roupas novas (especialmente pretas ou escuras), detergentes ou antissépticos podem causar pigmentação do cateter.
* **Entender o mecanismo: **corantes dispersos, comuns em poliéster e nylon, podem aderir ao silicone após contato prolongado.
* **Educação do paciente: **orientar que roupas novas sejam lavadas antes do uso e que qualquer mudança no aspecto do cateter seja comunicada.
**Conclusão**
Este caso ilustra como um achado inusitado pode ser benigno e resolvível sem intervenção invasiva. O olhar clínico atento, aliado a investigação sistemática, evita uso desnecessário de antibióticos e hospitalização, além de fortalecer a educação do paciente para o autocuidado.