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A nefropatia por IgA (NIgA) é a glomerulopatia primária mais comum no mundo. Seu manejo durante a gestação impõe desafios importantes, sobretudo diante das limitações terapêuticas impostas pela segurança fetal.
Sabemos que proteinúria acima de 1 g/dia está associada a desfechos materno-fetais adversos. No entanto, medicamentos como os inibidores do sistema renina-angiotensina (iSRA), inibidores de SGLT2 e sparsentana (ainda não disponível no Brasil) devem ser evitados por potenciais efeitos teratogênicos.
**Vamos aprender com essa publicação interessante realizada por Cañameras C, et al. no Kidney Int Rep. 2025 [[link](https://www.kireports.org/article/S2468-0249(25)00461-9/fulltext)]** 🔗
📁 Dois casos clínicos descritos no artigo destacam o uso da hidroxicloroquina (HCQ) como uma alternativa promissora:
##### Caso 1:
Paciente de 23 anos, com NIgA estável, apresentou piora da proteinúria (1,65 g/dia) após suspensão de iECA para tentativa de fertilização. Com uso de HCQ (200 a 400 mg/dia), houve redução progressiva da proteinúria e resolução da hematúria. Evoluiu com parto a termo, sem pré-eclâmpsia.

##### **Caso 2:**
Paciente de 33 anos, inicialmente com proteinúria nefrótica, previamente controlada sem imunossupressão. Após suspensão de anti-hipertensivos antiproteinúricos para engravidar, teve piora da proteinúria. HCQ foi iniciada como medida preventiva. Após interrupção equivocada da HCQ durante a gestação, observou-se piora da proteinúria, com nova melhora após reintrodução. Evoluiu com parto a termo e boa tolerância ao medicamento.

Apesar de ser um relato de apenas dois casos, esse artigo nos gera inquietação sobre o possível benefício da HCQ no tratamento da NIgA, especialmente em pacientes gestantes.
##### **Mas será que faz sentido o uso dessa medicação nas pacientes com NIgA?**
O que sabemos?
• A HCQ é amplamente utilizada em doenças autoimunes, como lúpus, com perfil de segurança gestacional bem estabelecido. Atua por inibição de receptores TLR, redução de citocinas inflamatórias (IL-6, TNF-α, BAFF) e efeito imunomodulador, o que pode ter impacto na fisiopatologia da NIgA.
• Estudos experimentais e observacionais reforçam sua ação antiproteinúrica. Um ensaio clínico randomizado demonstrou redução de até 48% da proteinúria em pacientes com NIgA tratados com HCQ [**[link](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30922594/)**]. Além disso, dados retrospectivos indicam boa tolerabilidade, com menor risco de pré-eclâmpsia e natimortalidade, mesmo em pacientes com histórico de abortamento.
• Apesar das evidências promissoras, faltam estudos prospectivos em larga escala. Ainda assim, os achados sugerem que a HCQ pode representar uma alternativa segura e eficaz para o manejo da NIgA durante a gestação, especialmente quando há contraindicação a outras terapias antiproteinúricas.
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