O controle da pressão arterial em pacientes com diabetes tipo 2 é um tema central na prática do nefrologista devido à sua influência direta na prevenção de eventos cardiovasculares e na progressão da doença renal crônica (DRC). Este artigo, publicado no New England Journal of Medicine ([link](https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2412006)), apresenta evidências robustas que vão modificar a abordagem clínica para este grupo de pacientes.
O estudo chinês “Blood Pressure Control Target in Diabetes (BPROAD) trial” investigou se o tratamento intensivo, com alvo de pressão arterial sistólica inferior a 120 mmHg, é mais eficaz do que o tratamento padrão (alvo <140 mmHg) na redução de eventos cardiovasculares em pacientes com diabetes tipo 2. A pesquisa foi realizada em 145 centros na China, envolvendo 12.821 pacientes, acompanhados por um período médio de 4,2 anos.
Foram incluídos pacientes com DM2, >50 anos, hipertensos (PA sistólica 130-180 mm Hg em uso de anti-hipertensivos ou >140 mm Hg sem uso de anti-hipertensivos) que possuíam fatores de risco cardiovasculares.
Os paciente eram avaliados a cada 3 meses para avaliar se o alvo pressórico estava dentro do limite proposto.
Resultados Principais
Os pacientes do grupo de tratamento intensivo apresentaram uma incidência significativamente menor de eventos cardiovasculares maiores, com uma taxa de 1,65 eventos por 100 pessoas-ano, em comparação a 2,09 no grupo padrão (HR 0,79; IC 95%: 0,69–0,90; p<0,001). Além disso, houve uma redução na ocorrência de AVCs fatais e não fatais no grupo intensivo (1,19 vs. 1,50 eventos por 100 pessoas-ano). Não foi observado diferenças quanto a progressão para DRC entre os grupos, porém a incidência de albuminúria foi menor no grupo de controle intensivo, indicando algum benefício renal (0.87; IC 95% 0,77-0,97).
![](/PANEJM1.webp)
![](/PANEJM2.webp)
Eventos adversos
Embora os benefícios cardiovasculares sejam claros, o grupo de tratamento intensivo apresentou maior incidência de hipotensão sintomática (0,1% vs. <0,1%; p=0,05) e hipercalemia (>5,5 mmol/L: 2,8% vs. 2,0%; p=0,003). Esses achados destacam a necessidade de monitoramento rigoroso, especialmente na população com DRC, que por possuir auto-regulação renal prejudicada pode estar predisposta a maior ocorrência de eventos adversos.
![](/PANEJM3.webp)
Impacto Prático para o Nefrologista
Este estudo reforça a importância de metas mais rigorosas de pressão arterial para prevenção de eventos cardiovasculares em pacientes com diabetes tipo 2. Contudo, menos de 10% dos participantes apresentavam TFGe entre 30-60 mL/min/1,73m², limitando a generalização desses resultados para pacientes com DRC. Assim, esse alvo pressórico deve ser compreendido como uma estratégia para reduzir eventos cardiovasculares em populações de alto risco, não como uma medida primária para prevenir a progressão da DRC.
A intensificação do tratamento requer cautela, especialmente em pacientes com DRC, que são mais vulneráveis aos efeitos adversos da hipotensão e apresentam maior risco de hipercalemia. Um acompanhamento minucioso é essencial para maximizar os benefícios e minimizar os riscos neste grupo específico.