A hipercalemia pré-diálise é um desafio comum em pacientes em hemodiálise, associada a risco elevado de arritmias e morte súbita. Novos quelantes de potássio, como o ciclossilicato de zircônio e sódio (CZS), vêm sendo explorados para reduzir eventos cardiovasculares nessa população.
📚 Referência: Magagnoli J, et al. Am J Hematol. 2025 [**[link](https://www.kidney-international.org/action/showPdf?pii=S0085-2538%2825%2900509-5)**] 🔗
🔬 O DIALIZE-Outcomes foi um estudo internacional, multicêntrico, randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, de fase 3b, envolvendo 2.690 pacientes em 344 centros de 26 países. Todos estavam em hemodiálise 3x/semana e apresentavam hipercalemia recorrente (≥5,5 mmol/L após o intervalo interdialítico longo). Foram randomizados 1:1 para CZS (5–15 g nos dias sem diálise) ou placebo, com titulação individual para manter potássio entre 4,0 e 5,0 mmol/L. Foram excluídos pacientes com diagnósticos de arritimias prévias (ex. distúrbios de condução, QT longo ou FA) ou portadores de marcapassos/desfibriladores implantáveis.
📌 O desfecho primário foi um composto de morte súbita cardíaca, AVC ou hospitalização/intervenção por arritmia. Secundários incluíram componentes individuais, controle do potássio e necessidade de terapias de resgate.
⚠️ O estudo foi encerrado precocemente devido a taxa de eventos muito abaixo do esperado (~33% do planejado) e alta descontinuação do tratamento (30–39%), reduzindo o poder estatístico e a validade externa.
🚨 Resultados: Não houve diferença entre CZS e placebo no desfecho primário (8,8% vs. 8,9%; HR 0,98, IC95% 0,76–1,26). Também não houve benefício nos componentes isolados (morte súbita, AVC, hospitalizações). Por outro lado, CZS foi significativamente superior no controle da normocalemia (74% vs. 47% em 12 meses) e reduziu episódios de hipercalemia grave (4% vs. 10%) e necessidade de terapias de resgate (8,7% vs. 20%).

Figura 1. Análise de Kaplan–Meier do desfecho composto primário.
###### **Limitações importantes:**
• Encerramento precoce, com apenas 1/3 dos eventos-alvo observados.
• Alta taxa de descontinuação, afetando a análise de eficácia.
• Ausência de dispositivos de monitoramento contínuo (ILR) para detectar arritmias assintomáticas.
• População com menor prevalência de diabetes (34%), possivelmente reduzindo o risco basal de eventos.
• Potássio de inclusão (≥5,5 mmol/L) pode não ter sido suficientemente alto para gerar a quantidade prevista de eventos.
###### ✅** O que fica de aprendizado?**
O CZS demonstrou eficácia no controle do potássio e na redução de hipercalemia grave, mas não parece ter benefício em reduzir eventos cardiovasculares arrítmicos relacionados ao controle do potássio. O estudo reforça a necessidade de melhor seleção de população, uso de monitoramento contínuo de arritmias e estratégias para evitar perdas de seguimento em futuros ensaios. Porém com evidência atual, não devemos utilizar rotineiramente o CZS para redução de arritmias nos pacientes hemodiálise!