As terapias cardiorrenais com iSGLT2 e agonistas de GLP-1 vêm transformando o cuidado de pacientes com DRC e DM2. Nos transplantados renais, seu uso está sendo cauteloso, por medo de interações e impacto na função do enxerto.
Entretanto, evidências recentes sugerem segurança metabólica, renal e imunológica, além de benefícios inesperados — como a melhora da hipomagnesemia pós- transplante.
Essa
**Referência**: Ahmed H. et al. SGLT2 Inhibitors and GLP-1 Receptor Agonists in Kidney Transplantation: A Systematic Review. 2024 \[**[link](https://leoriella.com/sglt2-inhibitors-and-glp-1-receptor-agonists-in-kidney-%20transplantation-a-systematic-review-and-meta-analysis/)**].
###### **Achados principais dessa meta-análise**
Incluídos 32 estudos com 7.834 receptores de transplante renal (3.856 iSGLT2,
3.978 RA GLP). O uso do tratamento foi associado a:
* Redução de mortalidade global e cardiovascular em comparação com controles pareados.
* Menor incidência de eventos cardiovasculares maiores (MACE) — incluindo infarto, AVC e hospitalização por IC.
* Estabilidade da função do enxerto, sem aumento de rejeição ou necessidade de ajuste imunossupressor.
**Avaliando separadamente:**
**iSGLT2 (empagliflozina, dapagliflozina, canagliflozina):**
1. Redução de HbA1c (–0,6 a –0,8%) e peso corporal (–2 a –4 kg).
2. Função do enxerto estável e sem necessidade de ajuste de imunossupressores.
3. Sem aumento de rejeição aguda ou complicações graves.
4. Discreta elevação do risco de ITU leve, sem aumento de pielonefrite.
5. Melhora dos níveis séricos de magnésio, sugerindo efeito benéfico sobre a hipomagnesemia associada ao uso de tacrolimo, provavelmente via aumento da reabsorção tubular de Mg²⁺.
**Agonistas de GLP-1 (liraglutida, semaglutida, dulaglutida):**
1. Reduzem peso e glicemia de forma consistente.
2. Boa tolerância gastrointestinal.
3. Nenhum efeito adverso significativo na função do enxerto.
###### **Implicações clínicas**
✅ Ambos os grupos podem ser usados com segurança em transplantados estáveis, se:
* TFGe > 30 mL/min/1,73m²
* Função do enxerto estável e imunossupressão ajustada
* Sem infecções urinárias de repetição
⚠️ Evitar início precoce (\<6 meses pós-transplante) e monitorar:
* Volemia, glicemia, níveis de magnésio e creatinina
* Risco de desidratação, especialmente com diuréticos ou tacrolimo
**O papel no manejo da hipomagnesemia**
A hipomagnesemia é uma complicação frequente do uso crônico de tacrolimo e ciclosporina. Os iSGLT2 parecem aumentar a reabsorção tubular de magnésio, elevando
discretamente seus níveis séricos — efeito potencialmente protetor contra arritmias e
fraqueza muscular.
AR-GLP-1 também podem contribuir indiretamente, reduzindo resistência insulínica e
perdas urinárias de eletrólitos.
Esses achados reforçam o potencial das drogas como coadjuvantes metabólicos no transplante, indo além do controle glicêmico.
**Conclusão**
Os SGLT2i e GLP-1 RA se mostram seguros, bem tolerados e metabolicamente vantajosos no contexto do transplante renal, com possíveis efeitos benéficos sobre a hipomagnesemia induzida por imunossupressores. Ainda faltam ensaios randomizados, mas os dados atuais sustentam o uso criterioso em pacientes estáveis.
**Considerar iSGLT2 e/ou RA-GLP-1 em:**
* DM pós-transplante e sobrepeso
* Hipomagnesemia leve/moderada persistente
* Boa função do enxerto
** Evitar em:**
* Primeiros 6 meses pós-TX
* Infecções urinárias recorrentes
* Hipovolemia ou desidratação