A Doença Renal Policística Autossômica Dominante (DRPAD) representa a doença genética renal mais comum e frequentemente se manifesta durante os anos férteis da vida da mulher. O acompanhamento da gestação em pacientes com DRPAD impõe desafios complexos e requer manejo multidisciplinar. Este artigo de revisão publicado no Kidney International Reports **[[link](https://www.kireports.org/article/S2468-0249(24)03484-3/fulltext)]** aborda, com base em evidências atuais, todos os aspectos que o nefrologista deve considerar antes, durante e após a gestação dessas pacientes.
Devemos lembrar que tanto a DRPAD quanto a DRC são fatores de risco para complicações materno-fetais. Em pacientes com creatinina basal **< 1,4 mg/dl,** os desfechos maternos e fetais podem ser favoráveis.** No entanto, se a creatinina for > 2,0 mg/dl, a paciente apresenta risco de declínio adicional da função renal durante a gestação.**
###### **🩺 Antes da concepção: avaliação e aconselhamento**
* A paciente deve ser avaliada por nefrologista, obstetra e especialista em medicina materno-fetal.
* Creatinina > 2,0 mg/dL é fator de risco para perda de função renal durante a gestação.
###### **É fundamental discutir fertilidade e opções de planejamento familiar:**
* Técnicas de reprodução assistida (TRA), como fertilização in vitro (FIV) e uso de embriões com ciclo natural (para evitar risco hepático em pacientes com doença hepática policística, pelo excesso de hormônio utilizado).
* Teste genético pré-implantacional (PGT-M): permite selecionar embriões sem mutações de DRPAD, reduzindo o risco de transmissão para 1–2%.
* Gestação por substituição pode ser considerada em casos de alto risco obstétrico, porém considerar questões éticas e legais.
###### **🤰 Durante a gravidez: acompanhamento rigoroso e medidas preventivas**
Avaliação renal com creatinina, proteinúria e volume renal total ajustado por altura (TKV) é essencial.
* DRPAD está associada a maior risco de:
* Hipertensão crônica ou gestacional
* Pré-eclâmpsia e eclâmpsia
* Infecção urinária (até 14% dos casos)
Conduta prática:
* Meta pressórica: pressão sistólica entre 110–135 e diastólica entre 70–85 mmHg
* Uso de aspirina 81–162 mg/dia antes de 16 semanas como profilaxia para pré-eclâmpsia
* Evitar inibidores da ECA, BRA, tolvaptana e micofenolato/sirolimo/everolimo (se a paciente for transplantada renal)
* Antihipertensivos seguros: labetalol, nifedipina, metildopa, hidralazina
###### **🧠 Riscos adicionais a monitorar:**
* **Função renal: pode se deteriorar durante a gestação, mesmo em mulheres com função basal preservada.**
* **Crescimento de cistos hepáticos e renais:** pode ser acelerado por aumento de vasopressina e hormônios da gravidez, habitualmente não é necessário repetir exames de imagem durante a gestação, mas lembrar deste fenômeno para seguimento pós gestação
* **Aneurismas cerebrais**: risco de ruptura pode aumentar no terceiro trimestre; avaliação individualizada é recomendada.
###### **🍼 Puerpério e amamentação: estratégias de cuidado**
* O seguimento deve ocorrer nas primeiras 4 semanas, ou 1–3 semanas em casos de hipertensão.
* Algumas medicações são seguras na lactação (enalapril, captopril, azatioprina, prednisona); outras devem ser evitadas (tolvaptana, micofenolato, sirolimo).
* Anticoncepção deve considerar o impacto do estrogênio no crescimento hepático. Em pacientes com DHP severa, evitar contraceptivos estrogênicos.
###### **Em resumo…**
A mulher com DRPAD exige atenção especial ao longo do processo gestacional. A avaliação prévia, o controle rigoroso da pressão arterial e a escolha cuidadosa de medicamentos são essenciais para reduzir complicações. O nefrologista deve atuar ativamente em equipe multiprofissional, garantindo segurança materno-fetal. Estratégias reprodutivas avançadas (infelizmente não acessíveis no Brasil) podem ampliar o espectro de escolhas da paciente com segurança.