🔬 A carboximaltose férrica (CMF) é eficaz no tratamento da anemia ferropriva, mas está associada a um efeito adverso importante: a hipofosfatemia (HPP). Aqui vamos apresentar os principais achados dessa interessante revisão sobre CMF que todo nefrologista precisa saber!
📚 Referência: Magagnoli J, et al. Am J Hematol. 2025 [[link](https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC11966349/pdf/AJH-100-840.pdf)] 🔗
1. O que é a HPP associada à CMF?
A hipofosfatemia ocorre quando os níveis séricos de fosfato caem após a infusão de FCM, principalmente devido à elevação do hormônio FGF23, que:
· Inibe a reabsorção de fosfato nos túbulos renais.
· Reduz a ativação da vitamina D.
· Aumenta o PTH, perpetuando a perda de fósforo.
📌 Quadro clínico: fraqueza muscular, fadiga persistente, dor óssea, osteomalácia e fraturas. Isso gera um desafio quando prescrevemos, pois os sintomas de HPP se confundem com os da própria anemia, dificultando o diagnóstico.
2. O que temos de literatura atual?
* Casos clínicos: pacientes com fadiga grave, osteomalacia e até insuficiência respiratória após CMF.
* Ensaios clínicos randomizados: taxas de HPP com CMF variam entre 50% e 92% — muito superiores às observadas com outras formulações (≤10%).
* Estudos observacionais: maior taxa de fraturas em quem usou CMF; evidência de maior acúmulo ósseo de ferro e alterações no metabolismo ósseo.
* Revisões sistemáticas e meta-análises: HPP com CMF pode persistir por até 3 meses, e ocorre mesmo em pacientes com função renal normal.
✅ Condutas recomendadas:
* Monitorar fosfato sérico antes e após cada dose de CMF.
* Suspender novas infusões se HPP for identificada.
* Priorizar formulações com menor risco de HPP.
* Lembrar que a reposição de fosfato pode falhar enquanto FGF23 estiver elevado.
3. Lacunas em diretrizes e alertas de segurança
📄 Apesar da bula da CMF ter sido atualizada em 2023, ainda subestima o risco real de HPP.
📉 Diretrizes como KDIGO e NCCN ainda não abordam adequadamente esse tema. A farmacovigilância (via FAERS) mostra subnotificação importante e crescente incidência de eventos graves.
4. O que fica de aprendizado?
* A CMF, embora eficaz na reposição de ferro, pode causar hipofosfatemia clinicamente relevante.
* O risco é subestimado, e a complicação muitas vezes passa despercebida.
* Monitoramento adequado e escolha racional da formulação são fundamentais para prevenir desfechos graves.