**Referência**: Wahba IM. Gadolinium and Kidney Disease: Should We Still Be Cautious? CJASN, 2025 \[**[link](https://journals.lww.com/cjasn/fulltext/2025/10000/gadolinium_and_kidney_disease__should_we_still_be.21.aspx)**]
**Caso clínico**
Seu João, 62 anos, portador de doença renal crônica estágio 4 (TFGe 22 mL/min/1,73m²), precisa realizar uma ressonância magnética com contraste para investigar uma massa hepática.
**O radiologista diz: “Vamos usar um contraste do grupo 2, é seguro, nem precisa checar função renal ou pedir consentimento especial.”**
Você libera sem pensar duas vezes? Ou segura um pouco, revisa as opções e discute o risco com mais calma?
###### **O que este artigo do CJASN discute?**
**1) Gadolínio “grupo 2” é realmente seguro?**
Esses agentes são bem mais seguros do que os antigos contrastes lineares “grupo 1”, que estavam fortemente associados à fibrose sistêmica nefrogênica (FSN).
Mas “seguro” não significa “sem risco”. A ausência de casos recentes não garante risco zero, especialmente, em pacientes com TFGe abaixo de 30 mL/min/1,73m², múltiplas exposições ou uso de doses altas.
Ou seja: o risco é baixo, mas não nulo.
###### **2) Por que há uma tendência ser mais liberal?**
As diretrizes de radiologia mais recentes simplificaram a conduta, permitindo o uso dos agentes de gadolínio “grupo 2” sem obrigatoriedade de checar TFGe ou obter consentimento formal.
Na prática, isso aumentou o uso de gadolínio em pacientes com DRC avançada, muitas vezes de forma repetida.
O artigo do CJASN alerta que a qualidade das evidências que embasam essa mudança é limitada e que o bom senso clínico deve prevalecer (sempre)!
###### **3) Já houve FSN mesmo com contraste “grupo 2”?**
Sim. Embora extremamente raros, existem relatos de casos de FSN após o uso isolado desses agentes, especialmente em situações de doses repetidas ou administração intra-arterial. **Isso reforça a importância de sempre individualizar a indicação**.

**Figura 1.** Casos de FSN relatados ao FDA até o momento com cada agente de contraste à base de gadolínio (GBCA) (dados acessados em 1º de setembro de 2025). GBCA do grupo 1: gadodiamida, gadopentetato, gadoversetamida. GBCA do grupo 2: gadobenato, gadoteridol, gadoterato, gadobutrol. Abreviações: FDA = Food and Drug Administration dos EUA; GBCA = agente de contraste à base de gadolínio; FSN = fibrose sistêmica nefrogênica.).
###### **4) E quanto à nefrotoxicidade do gadolínio?**
O gadolínio pode ser nefrotóxico, sobretudo quando administrado em doses altas ou por via
intra-arterial. Para a dose intravenosa habitual dos agentes do grupo 2, o risco de injúria renal aguda é considerado muito baixo, mas ainda não completamente descartado.
Em alguns casos de DRC avançada, pode até ser mais seguro do que o contraste iodado, mas a decisão deve ser compartilhada entre nefrologista e radiologista.
###### **5) E na prática, como o nefrologista deve conduzir?**
Confirme a necessidade: o exame com contraste vai realmente mudar a conduta? Há alternativa sem contraste? Isso vale para qualquer tipo de contraste que pode causar nefrotoxicidade
**Se for indispensável:**
* Use apenas agentes “grupo 2”.
* Peça a menor dose possível.
* Evite exames repetidos em curto intervalo.
* Prefira via intravenosa em vez de intra-arterial.
Após o exame: oriente observação clínica, principalmente quanto a alterações cutâneas
que possam sugerir FSN (espessamento, endurecimento, manchas ou contraturas).
###### **Voltando ao caso do Seu João**
Após discutir com a radiologia, você confirma que a informação diagnóstica realmente muda a conduta.
Decide seguir com gadolínio grupo 2, dose mínima e via intravenosa.
Registra em prontuário a decisão compartilhada e planeja monitorização clínica.
O exame é realizado sem intercorrências, e o paciente segue estável.
##### **Mensagem final do NefroAtual**
Sim, o gadolínio “grupo 2” é muito mais seguro — mas ainda exige cautela.
Nem todo paciente com DRC precisa evitá-lo, mas nenhum deve recebê-lo de forma automática.
A regra de ouro continua sendo individualizar, minimizar e monitorar.
Atenção!!
A hemodiálise após uso de gadolínio em pacientes com DRC só é indicada em situações
muito específicas.
**Pacientes em diálise crônica**
* Conduta recomendada: realizar a próxima sessão de diálise o quanto antes (idealmente nas primeiras 24 horas após o exame).
* O objetivo é remover o máximo possível do gadolínio residual, já que cerca de 70–90% pode ser eliminado em uma sessão.
* Não é necessário fazer uma sessão extra, a menos que tenha sido utilizada dose alta ou agente do grupo 1 (que praticamente não são mais usados).
**Pacientes com DRC estágio 4 e 5 for a de dialise (TFGe \<30 mL/min/1,73m²)**
* Não se indica diálise profilática após a exposição ao gadolínio.
* As evidências mostram benefício incerto e risco potencial maior de complicações do procedimento.
* O foco deve ser evitar o contraste quando possível, usar agentes do grupo 2, dose mínima e monitorar clinicamente.
**Pacientes com injúria renal aguda (IRA) potencialmente reversível**
* Evite gadolínio, se possível.
* Caso o exame com contraste seja imprescindível, use agente de grupo 2 e dose única.
* Não se recomenda diálise profilática: ela não previne FSN e pode atrasar a recuperação da função renal.
##### **Mensagem prática**
* Diálise após gadolínio só é justificada em quem já é dialítico, e deve ser feita na sessão subsequente o mais precoce possível.
* Não há indicação de diálise profilática em pacientes com DRC não dialíticos, mesmo com TFGe muito baixa.
##### **Resumindo o raciocínio clínico:**
* Se o paciente já faz diálise, antecipe a próxima sessão.
* Se o paciente não faz diálise, não inicie apenas por causa do gadolínio — apenas redobre a cautela na indicação e no seguimento clínico.
E você? Já conversou com a radiologia para ajustar dose ou discutir alternativas em um paciente com TFGe baixa?
Conta aqui!