**Referência:** Tangri N, Neuen BL, Cherney DZ, Tuttle KR, Perkovic V. From progression to remission: a new paradigm for success in chronic kidney disease. Kidney International. 2025. \[**[link](https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0085-2538\(25\)00847-6)**]
##### **Caso clínico para começar a conversa**
Dona Marlene, 58 anos, diabetes tipo 2 há 15 anos, chega ao consultório trazendo uma pergunta direta:
“Doutor, é verdade que minha doença renal pode melhorar? Porque sempre me disseram que só piora…”
Ela tem TFGe de 42 mL/min e uma albuminúria de 900 mg/g. Está em uso de IECA, mas nunca usou SGLT2i, GLP-1RA ou finerenona. Seu principal receio é “Entrar na máquina”, como aconteceu com a prima dela que também tinha diabetes.
Você já teve algum paciente assim também? Na nossa formação como nefrologista, a gente foi treinado partindo do princípio de que a DRC só caminha para frente — e para baixo. Mas… e se a ciência estivesse dizendo algo totalmente diferente agora?
Afinal, será que dá realmente para falar em remissão da DRC? E mais importante: quem são os pacientes que podem atingir remissão da progressão da DRC??
Vamos destrinchar…
##### **O que esse artigo traz de mais importante?**
A provocação é pesada:
👉 parar de pensar em “retardar progressão” e começar a falar em “remissão da DRC”.
Mas o que é “remissão” aqui?
• TFGe estável, com declínio \< 1 mL/min/ano (o declínio fisiológico do envelhecimento).
• Albuminúria normalizada ou quase normalizada.
• Em pacientes com TFGe > 45, voltar para TFGe > 60 + A1 pode ser considerado remissão completa.
###### **E a pergunta central é: isso é real na prática ou só um conceito bonito?**
###### **Primeiro ponto: quem tem chance real de remissão?**
Segundo o artigo:
• Remissão acontece até em DRC moderada a avançada.
• Albuminúria A3 é o principal marcador que reduz a chance de remissão
(pacientes A3 têm 5x menos chance de regredir).
• Mas se a gente conseguir reduzir essa albuminúria de forma agressiva, a possibilidade muda completamente.
E aí entra a avalanche terapêutica dos últimos anos.
###### **A era da terapia combinada está mudando tudo…**
Você lembra quando RAAS era praticamente tudo que tínhamos, né?
Pois agora temos:
• SGLT2i
• Finerenona (ns-MRA)
• GLP-1RA
• Terapias alvo para NIgA (anti- celulas B, anti-complemento)
E os números são impressionantes:
###### **iSGLT2 reduziram o declínio de TFGe pela metade (ou mais)**
• Ex: CREDENCE → de –4.5 para –1.8 mL/min/ano
• DAPA-CKD → de –3.8 para –1.6 mL/min/ano
###### **Com SGLT2i + GLP-1RA:**
→ declínio chega a –1.3 a –1.5 mL/min/ano.
Estamos falando do declínio fisiológico de um adulto saudável!
Finerenona + SGLT2i (CONFIDENCE trial)
→ reduções de albuminúria > 50% na maioria dos pacientes.
Eu sei que ela era A3, mas pensa no impacto disso para Dona Marlene lá do início…
###### **E as glomerulopatias? Dá para falar em remissão também?**
Para a NIgA, o artigo traz um ponto muito forte:
• Terapias imunomoduladoras mais modernas (anti ceéulas B, anti-APRIL, anti-complemento) estão produzindo slopes de –1 mL/min/ano ou menores.
• Muito melhores que a era pré-imunoterapia (–2 a –3 mL/min/ano).
A mensagem é clara:
mesmo nas glomerulopatias, remissão deve ser a meta, não apenas “progredir mais devagar”.
###### **Mas então, o que muda para a prática clínica?**
Perguntas que o artigo te faz — e que eu reforço aqui:
• Você está satisfeito com redução de albuminúria de 30%?
👉 Pois 60–80% é possível e deve ser buscado.
• Você inicia iSRAA + SGLT2i juntos ou espera?
👉 A ciência sugere iniciar em conjunto para não perder tempo.
• Você só adiciona finerenona quando já está em A3 bem alto?
👉 Talvez esteja chegando tarde demais.
• Você está realmente perseguindo remissão como alvo terapêutico na DRC?
👉 Essa é a virada de chave do artigo.
**Perceba na figura do artigo as diferenças:**

##### **Resumo prático do NefroAtual – “O que eu levo desse artigo para aplicar amanhã?”**
* ✔ Remissão é possível – defina-a no consultório: TFGe estável (\<1 mL/min/ano) + albuminúria normalizada.
* ✔ Comece cedo e combata albuminúria de forma agressiva.
* ✔ Use terapia combinada: iSRAA + iSGLT2 + Finerenona + GLP-1RA quando indicado.
* ✔ Não espere “falhar” para escalar tratamento.
* ✔ Faça rastreio da albuminúria nos grupos de risco.
* ✔ Mude o discurso com os pacientes: a ideia de “doença inevitável” está ficando ultrapassada.
* ✔ A remissão da NIgA também é possível com as terapias mais modernas.
* ✔ Meta do futuro (e do presente): manter a saúde renal, não só atrasar diálise
##### **Mensagem final do NefroAtual**
A DRC deixou de ser uma doença que é só só ladeira abaixo
Estamos vivendo uma mudança real, sustentada por dados sólidos, que permite pensar em remissão da DRC como objetivo terapêutico!
A pergunta é: nós estamos, como nefrologistas, preparados para mudar nossa mentalidade e nossas metas??
E você? Já teve algum paciente que entrou em “remissão” sem você ter usado esse termo? Já perseguiu uma estratégia de normalização de albuminúria como alvo explícito?? Comenta aqui!