**Referência**: Isaka Y, Sakaguchi Y, Shinzawa M, et al. Rituximab for Relapsing Nephrotic Syndrome in Adults. JAMA. 2025. \[**[link](https://jamanetwork.com/journals/jama/article-abstract/2841034)**]
###### **Antes de tudo: o que é FRNS e SDNS?**
Este estudo avaliou dois perfis clássicos (e difíceis!) do nosso ambulatório:
* Síndrome Nefrótica Frequentemente Recorrente (FRNS): Quando o adulto entra em remissão, mas recai repetidamente — duas ou mais vezes em 6 meses, ou quatro em 12 meses.
* Síndrome Nefrótica Dependente de Corticoide (SDNS): Quando o paciente só mantém remissão enquanto toma corticoide, recaindo ao reduzir a dose ou até duas semanas após suspender o prednisona.
São aqueles pacientes que todos nós já vimos: melhoram, mas basta tentar desmamar que tudo volta…
E foi exatamente esse grupo que esse estudo japonês resolveu avaliar.
###### **Caso clínico ilustrativo**
Vamos nessa!
Segunda-feira de manhã. Você avalia no ambulatório um homem de 39 anos, professor, portador de doença de lesões mínimas. A história? A mesma de muitos dos seus pacientes:
• Remite com corticoide,
• Recaí ao desmamar,
• Tenta ciclosporina → responde, mas recai,
Agora ele está em remissão, mas frustrado:
“Doutor, tudo que eu quero é parar de tomar corticoide sem que volte tudo de novo…”
Você olha os exames:
• Proteína urinária \<0,3 g/gCr
• Albumina sérica normal
• TFGe 75 mL/min/1,73m²
E pensa:
Será que o rituximabe finalmente é a melhor alternativa? Mas… funciona mesmo em ADULTOS? De forma sustentada? É seguro?
Pois é aqui que o novo ensaio clínico muda o jogo.
###### **O que este estudo fez e por quê?**
Os pesquisadores japoneses conduziram um ensaio clínico randomizado, duplo-cego e placebo-controlado, avaliando 72 adultos com:
✔️ FRNS ou
✔️ SDNS, já em remissão no momento da randomização.
**Os participantes receberam:**
• Rituximabe 375 mg/m² nas semanas 1, 2 e 25,
ou
• Placebo, no mesmo esquema.
**Objetivo principal? **👉 Permanecer livre de recaída até a semana 49.
Simples e direto.
Essas foram as características basais dos pacientes. Imensa maioria com DLM.

###### **E aí? Rituximabe funciona mesmo?**
Funciona — e muito.
**Resultados**:
• 87,4% livres de recaída com rituximabe
• 38,0% livres de recaída com placebo
• P \< 0,001
**Isso significa:**
👉 Redução de 84% no risco de recidiva (HR 0,16)
Em outras palavras:
paciente que recebe rituximabe tem quatro a cinco vezes menos chance de recair!
E note: o efeito aparece precocemente e se mantém de forma robusta até quase 1 ano.

###### **Mas funciona para todo mundo?**
O maior benefício apareceu nos pacientes com:
• Doença de Lesões Mínimas (DLM)
• FRNS
• SDNS
Já para GESF e membranosa, os números foram muito pequenos — não dá para concluir.
Ou seja:
👉 Nos adultos com DLM recidivante ou dependente de corticoide, o efeito é muito claro.
###### **E o impacto no corticoide? Esse é um ponto essencial.**
Este talvez seja o dado mais clinicamente relevante do estudo:
• 72% dos pacientes no grupo rituximabe conseguiram suspender totalmente o prednisona até a semana 49.
• No placebo? 36%.
Pergunta honesta: quantos dos seus pacientes crônicos com DLM conseguem ficar 1 ano sem corticoide?
Com rituximabe, essa possibilidade fica bem mais real!
###### **E a segurança? Alguma surpresa?**
Nada além do esperado.
• Infusões: 40% tiveram reações leves/moderadas
• Infecções graves: apenas 3%
• Hipogamaglobulinemia relevante: não detectada em adultos
• Nenhuma morte relacionada ao estudo
Em resumo:
Perfil de segurança consistente com o que já usamos em glomerulopatias.
###### **E se o paciente recair? Funciona como resgate?**
A beleza do estudo é que o grupo placebo que recaiu recebeu rituximabe de resgate.
Resultado?
• 20 de 20 pacientes que recairam e receberam rituximabe ficaram livres de recaída por mais 49 semanas!
Este achado é poderoso:
rituximabe funciona tanto para manutenção quanto para resgate.
###### **E na prática do consultório, o que muda?**
Muda muito, especialmente em adultos com DLM.
Este estudo traz:
✔️ Esquema claro e validado
375 mg/m² nas semanas 1, 2 e 25 (manutenção é fundamental!)
✔️ Redução de recidivas
Quase 90% livres de recaída em 1 ano.
✔️ Menor exposição a corticoide e CNI
Menos efeitos adversos pendurados.
✔️ Segurança adequada
Sem aumento importante de infeção grave ou hipogamaglobulinemia.Pode ser a diferença entre um paciente “refém do corticoide” e um adulto com vida normal.
##### **Mensagem Final do NefroAtual**
Esse é um estudo que finalmente coloca o rituximabe como protagonista no manejo da síndrome nefrótica recorrente em adultos — especialmente na doença de lesões mínimas, no FRNS e no SDNS.
O esquema com dose de manutenção na semana 25 parece ser o segredo da durabilidade do efeito.E você? Já usou rituximabe nesses pacientes? Tem visto boa resposta? Utiliza redoses guiadas por repopulação de células B?? Comenta aqui!