📚 Wahba IM. Gadolinium and Kidney Disease: Should We Still Be Cautious? CJASN [[link](https://journals.lww.com/cjasn/fulltext/9900/gadolinium_and_kidney_disease__should_we_still_be.592.aspx)]
#### Caso clínico ilustrativo
Paciente de 62 anos, TFGe de 23 mL/min/1,73m², hipertensa e com anemia da DRC. Durante a investigação de dor lombar persistente, o ortopedista solicita uma ressonância magnética com contraste. O serviço de imagem informa que o contraste será com gadolínio tipo 2, “seguro para pacientes com doença renal”. A nefrologia não foi consultada…
💬 Mas... será mesmo que estamos seguros para liberar o gadolínio em pacientes com DRC avançada ou em diálise? Precisamos nos preocupar com NSF ou com lesão renal aguda?
#### O que o artigo descreve?
O artigo é de perspectiva critica a prática crescente, amparada pelas diretrizes do American College of Radiology (ACR) e da National Kidney Foundation, de usar contrastes com gadolínio grupo 2 (GBCAs grupo 2) sem rastreamento prévio de função renal e sem consentimento informado, mesmo em pacientes com DRC avançada ou em diálise.
Embora os agentes do grupo 2 (gadobutrol, gadoterato, gadoteridol etc.) sejam mais estáveis e tenham menor risco teórico de liberação de gadolínio livre, o risco de fibrose sistêmica nefrogênica (NSF) não é zero — e pode estar subestimado...
#### O que os estudos mostram?
* Metanálise de 16 estudos: nenhum caso de NSF com gadolínio grupo 2, mas risco estimado de até 1:100 em pacientes com TFGe <30 mL/min
* Revisão de 20 estudos: risco em pacientes em diálise foi de 1:387 por exposição — semelhante ao risco com gadolínio grupo 1
* Múltiplos casos reportados ao FDA de NSF após gadolínio grupo 2, inclusive 80 casos não-confundidos por exposição prévia a grupo 1.
Figura 1. Casos de NSF notificados ao FDA até o momento para cada agente de contraste à base de gadolínio (GBCA)
GBCAs do grupo 1: gadodiamida, gadopentetato, gadoversetamida.
GBCAs do grupo 2: gadobenato, gadoteridol, gadoterato, gadobutrol.
Abreviações: FDA = Food and Drug Administration (Agência Reguladora dos EUA); GBCA = agente de contraste à base de gadolínio; NSF = fibrose sistêmica nefrogênica.
#### Risco de LRA também preocupa
O risco de Injúria renal aguda (IRA) após uso de gadolínio, especialmente intra-arterial ou em altas doses, pode chegar a:
* 20% em pacientes com TFGe <30 mL/min/1,73m², segundo metanálise recente.
* Maior risco com doses >0,4 mmol/kg.
O risco exato com a dose-padrão IV de gadolínio grupo 2 ainda não é bem definido por falta de estudos controlados.
💬 O que o autor recomenda?
1. Não banalizar o uso de gadolínio grupo 2 em pacientes com DRC ou diálise!
2. Discutir com o radiologista alternativas de imagem sem contraste ou com iodado (se menor risco) SEMPRE!!
3. Se necessário usar, que seja:
* na menor dose possível;
* evitando exposições repetidas;
* com monitoramento clínico após o exame.
A decisão deve ser individualizada, levando em conta não apenas a TFGe, mas também fatores como inflamação, uso de AEE em altas doses, hiperfosfatemia, sobrecarga hídrica, entre outros.
#### Conclusão do NefroAtual
Mesmo que o risco de NSF seja baixo, ele não é inexistente — e provavelmente está subestimado pela qualidade limitada dos estudos. Em tempos de uso mais liberal do Gadolíneo do grupo 2, o nefrologista precisa voltar para a conversa e participar da decisão, principalmente nos pacientes com TFGe <30 ou em diálise.
E você?
Tem liberado ressonância com gadolínio em seus pacientes com DRC avançada? Já foi chamado para decidir em situações de emergência?
Conta pra gente: você ainda é cauteloso ou já considera seguro o uso dos GBCAs grupo 2 nesses pacientes?