A Gamopatia Monoclonal de Significado Renal (GMSR) é uma entidade que vem ganhando cada vez mais importância no diagnóstico diferencial de glomerulopatias. Sabemos que é uma patologia subdiagnosticada e associada com doença renal progressiva, sendo um grande desafio na avaliação clínica do nefrologista.
Como decidir quais pacientes com gamopatia monoclonal devem ser biopsiados é um dos principais desafios da prática nefrológica atual.
Esse foi o tema desse importante artigo publicado no Kidney International, que apresenta uma calculadora para auxiliar em quando devemos suspeitar e quando devemos pensar em biopsiar os pacientes com suspeita de GMSR?
📚 Referência: Klomjit N, et al. Kidney Int. 2025 [[link](https://www.kidney-international.org/article/S0085-2538(25)00396-5/fulltext)] 🔗
🔬 Este estudo publicado por Klomjit et al propôs e validou a ferramenta Mayo MGRS Prediction Tool ([disponível aqui](https://mdevans.shinyapps.io/mgrs_app/)), com base em 280 pacientes com gamopatia monoclonal que realizaram biópsia renal entre 2013-2023 (coorte derivação). Também foi testada em 109 pacientes da Universidade de Minnesota (coorte validação).
#### Desenho do estudo
📌 O objetivo foi prever o risco de encontrar uma lesão renal relacionada à GMSR e orientar decisões clínicas sobre biópsia renal.
📁 Critérios de inclusão: pacientes com doença renal crônica (DRC) e gamopatia monoclonal (positivos em eletroforese de proteínas, imunofixação ou cadeias leves livres), com avaliação hematológica negativa para mieloma múltiplo, macroglobulinemia de Waldenström ou outras doenças que exigem tratamento onco-hematológico.
❌ Critérios de exclusão: pacientes em diálise, transplantados renais ou com diagnóstico hematológico que exige quimioterapia.
📖 Critério diagnóstico de GMSR: presença de lesões renais associadas à proteína monoclonal em biópsia, sem necessidade de tratamento para a clona hematológica (ex.: AL-amiloidose, PGNMID, LCPT, LCDD). O diagnóstico foi confirmado por revisão anatomopatológica no Mayo Clinic.
⚠️ As biópsias identificaram GMSR em 32,9% dos casos. AL-amiloidose foi a forma mais comum (41,3%), seguida por PGNMID (16,3%).
#### ✅ O modelo final incluiu 8 preditores clínicos e laboratoriais:
1. Presença de diabetes (fator protetor)
2. Relação afetada/não afetada de cadeias leves livres (FLC ratio)
3. Proteinúria total (g/dia)
4. UPEP ou imunofixação urinária positiva
5. Nível sérico de creatinina
6. Nível de C3 (mais baixo = maior risco)
7. Presença de hematúria
8. Pressão arterial sistólica
📊 O desempenho do modelo foi excelente: AUC 0,896 (derivação) e 0,861 (validação externa). A calibração também foi adequada.
📈 O uso da ferramenta mostrou benefício líquido superior à estratégia de biopsiar todos os pacientes ou nenhum, em qualquer ponto de corte de probabilidade analisado.

🚨 Pontos de corte clínicos úteis:
* Probabilidade ≥0,10 → Sensibilidade: 98,9%, Especificidade: 50,5% → NPV: 99,0%
* Probabilidade ≥0,25 → Sensibilidade: 88,0%, Especificidade: 70,2% → NPV: 92,3%
📌 Diferenças entre pacientes com e sem GMSR:
* GMSR → maior grau de proteinúria, presença de hematúria, alteração de cadeias leves livres e positividade em exames urinários para proteína monoclonal.
* GMSR → menor frequência de diabetes (14,1% vs 39,4%) e níveis mais baixos de C3 e C4.
* Não houve diferença entre os grupos em idade, sexo, creatinina sérica ou presença de pico monoclonal na eletroforese de proteínas.
✅ A [Mayo MGRS Prediction Tool](https://mdevans.shinyapps.io/mgrs_app/) é uma ferramenta validada e prática, útil para guiar decisões de biópsia em pacientes com DRC e gamopatia monoclonal, apoiando a medicina personalizada baseada em risco.