##### Com a melhora do tratamento medicamentoso para obesidade surge a pergunta, isso muda algo em relação aos pacientes obesos candidatos a transplante renal?
##### Esse tema foi abordado neste artigo no Kidney 360 [[link](https://journals.lww.com/kidney360/citation/9900/medical_therapy_versus_bariatric_surgery_in_kidney.643.aspx)].
Já abordamos esse tema nesse [POST aqui](https://www.nefroatual.com.br/nefroupdates/posts/cirurgia-baritrica-pr-e-ps-transplante-renal--uma-opo)!
##### A obesidade é uma barreira crescente ao transplante renal. Em um cenário em que a demanda supera a oferta de órgãos, perder peso de forma segura e eficaz torna-se essencial para que candidatos obesos tenham acesso à lista de espera. Mas qual abordagem escolher: terapia medicamentosa ou cirurgia bariátrica?
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1. O Desafio da Obesidade na DRC Avançada Pacientes com DRC estágio 5 e IMC >35-40 kg/m² enfrentam mais dificuldades para serem listados. A obesidade se associa a piores desfechos perioperatórios (principalmente complicações de ferida operatória), maior risco cardiometabólico e menor sobrevida do enxerto.
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2. Terapia Medicamentosa: promissora, mas ainda limitada e pouco disponível
Agentes como a semaglutida (GLP-1 RA) e a tirzepatida (GLP-1/GIP RA) têm mostrado perdas ponderais de 15-21% na população geral. No entanto, em pacientes com DRC avançada:
* Os estudos são escassos e retrospectivos;
* A dose de GLP-1 RA para obesidade (ex: 2,4 mg) raramente é utilizada em DRC dialítica;
* Efeitos gastrointestinais (náusea, vômito) podem limitar a progressão de dose;
* Há segurança e tolerabilidade preliminar, mas faltam estudos prospectivos.
Em candidatos ao transplante, o uso pode ser considerado como ponte para cirurgia ou para otimizar o estado clínico, desde que acompanhado de perto.
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3. Cirurgia Bariátrica: maior impacto na elegibilidade A cirurgia metabólica (como sleeve gastrectomy) pode induzir >20% de perda de peso em poucos meses e:
* Acelera a elegibilidade para transplante renal;
* Melhora/remite comorbidades (DM2, HAS);
* Permite descontinuação de agentes antidiabéticos em até 30% dos casos;
* Pode ser preferida em pacientes com grande excesso de peso ou intolerantes a GLP-1 RA.
Preferência por sleeve: menor risco de cálculos renais, menos interferência na absorção de imunossupressores e menor risco de complicações nutricionais comparado ao bypass.
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4. Considerações práticas para o nefrologista
* Avaliar idade, fragilidade e tempo estimado em diálise para escolher a melhor abordagem;
* Considerar terapia medicamentosa como alternativa ou ponte à cirurgia;
* Acompanhar de perto os pacientes evitar complicações volêmicas ou gastrointestinais;
* Garantir suporte nutricional para evitar perda de massa magra;
* Educar sobre o risco de reganho de peso após suspensão da terapêutica.
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Resumo: Tanto a cirurgia bariátrica quanto os análogos de incretinas têm papel no manejo da obesidade em candidatos a transplante. A escolha depende do perfil clínico e objetivos. A monitorização multiprofissional e individualizada é essencial.