Infecções do trato urinário (ITU) complicadas em pacientes com DRPAD representam um desafio clínico relevante. Dentre essas, a infecção de cistos renais é uma complicação potencialmente grave que exige abordagem diagnóstica e terapêutica específica.
A seguir resumimos as principais recomendações do KDIGO e atualização do UpToDate.
📚 Referência: KDIGO. Autosomal Dominant Polycystic Kidney Disease Guideline, 2025 [[link](https://kdigo.org/wp-content/uploads/2025/01/KDIGO-2025-ADPKD-Guideline.pdf)] 🔗
#### 🔍 Diagnóstico Clínico, atenção a evolução clínica!
As manifestações clínicas mais comuns da infecção de cistos incluem febre, dor em flanco, náuseas e vômitos. É importante distinguir entre pielonefrite aguda e infecção de cisto, o que nem sempre é simples. Na pielonefrite, o início costuma ser mais agudo e a dor mais difusa, enquanto a infecção de cisto pode apresentar dor localizada e evolução mais insidiosa.
Dica prática 1: na infecção cística o paciente é capaz de apontar a localização da dor, ao exame físico é fácil delimitar a região do cisto infectado
Dica prática 2: nos pacientes transplantados, os sintomas clássicos podem estar ausentes. A presença de piúria, leucocitose e aumento de marcadores inflamatórios são sugestivos, mas não diagnósticos, pois a piúria isolada pode ocorrer em até 45% dos pacientes com DRPAD sem infecção.
#### 📸 Achados de Imagem
A tomografia computadorizada (TC) é o exame de imagem mais útil nos casos graves, especialmente quando há suspeita de obstrução ou sepse. Entretanto, os achados podem ser inespecíficos, já que hemorragias císticas também alteram a morfologia dos cistos.
O PET/CT com 18F-FDG pode ser útil na diferenciação entre infecção de cisto renal e hepático e se destaca pela capacidade de localizar inflamações ativas.
#### 🧪 Abordagem Diagnóstica
A investigação inclui história clínica, exame físico, EAS, urocultura com antibiograma, hemoculturas e, nos casos graves, exames de imagem. Confere essa figura muito prática
A presença de leucócitos na urina, piúria, urocultura positiva e sensibilidade à palpação localizada aumentam a suspeita de infecção cística. Na infecção de cisto, a urocultura geralmente é negativa, pois o cisto frequentemente não se comunica com o sistema coletor. Organismos mais comuns incluem bacilos gram-negativos, principalmente E. coli, nesse caso o mais esperado é o achado de hemocultura positiva!
#### Confere esse o algoritmo abaixo super prático proposto pelo KDIGO para diagnóstico de infecção cística

#### 💊 Tratamento
✅ Antibioticoterapia empírica deve ser iniciada precocemente. Recomendam-se antibióticos lipofílicos como:
* Fluoroquinolonas (ex: ciprofloxacino, levofloxacino)
* Trimetoprim-sulfametoxazol
Esses agentes penetram bem nos cistos. Betalactâmicos e aminoglicosídeos, por outro lado, não atingem boas concentrações intracípticas.
#### ⏱ Duração do Tratamento (aqui a atenção faz muita diferença)
📌 Para pielonefrite sem infecção de cisto: 10 a 14 dias de antibiótico
📌 Para infecção confirmada ou suspeita de cisto: Mínimo de 4 semanas, podendo se estender até 6 semanas
Em casos com recorrência após término do antibiótico, considerar tratamento por até 2-3 meses.
#### ⚠️ Casos Refratários ou Recidivantes
A não resposta em até 72h ou febre persistente por mais de 7 dias após o início do antibiótico deve motivar reavaliação com TC contrastada ou PET/CT.
Achados como obstrução por cálculo ou abscesso demandam drenagem. Cistos infectados grandes (>3 a 5 cm) também podem necessitar de drenagem percutânea (e envio do material para cultura).
A nefrectomia é excepcional, mas pode ser indicada nos seguintes casos: cisto enfisematoso, infecções recorrentes em candidatos a transplante ou presença de cálculo coraliforme em rim sem função.
#### 📌 Conclusão
A infecção de cisto na DRPAD requer alta suspeição clínica, abordagem diagnóstica específica e seleção cuidadosa do antibiótico. Tratamentos mais longos com antibióticos lipofílicos e vigilância por imagem são essenciais para evitar complicações e recorrências.