Recentemente foi publicado o 4º consenso de tratamento de citomegalovírus (CMV) em transplantados de órgãos sólidos. A infecção por CMV permanece um dos principais desafios no manejo pós-transplante de órgãos sólidos. A escolha da estratégia de vigilância é essencial para prevenir doença e melhorar o desfecho do enxerto e do paciente.
📚 Referência: Kotton CN, et al. CMV - The Fourth International Consensus Guidelines on the Management of Cytomegalovirus in Solid Organ Transplantation. Transplantation. 2025. [[link](https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC12180710/)]
#### Por que prevenir o CMV pós-transplante?
A infecção por CMV pode resultar em doença direta (como febre, leucopenia, envolvimento tecidual) e efeitos indiretos, como rejeição e perda do enxerto. O tratamento e/ou prevenção da infecção pelo CMV para evitar e evolução para CMV doença são importantes para redução de complicações que impactam na sobrevida geral e sobrevida do enxerto. Vamos revisar as principais estratégias de forma prática.
#### Estratégias principais de prevenção
✅ Profilaxia universal
* Antiviral administrado para todos os pacientes (ou subgrupos de risco) por um período definido (ex.: 3-12 meses).
* Fármacos: valganciclovir, ganciclovir IV, letermovir, valaciclovir.
✅ Terapia preemptiva
* Monitoramento semanal da DNAemia (PCR para CMV) e início do antiviral ao atingir limiar pré-definido.
* Evita exposição desnecessária ao antiviral em quem não reativa CMV.
#### Comparativo: profilaxia x preemptivo

#### Medicamentos disponíveis
* Valganciclovir (VGCV): padrão para profilaxia; maior risco de leucopenia.
* Letermovir (LET): alternativa em intolerância ao VGCV; não previne herpes simples/varicela.
* Ganciclovir IV: usado em profilaxia e tratamento (via oral pode ser uma opção).
* Valaciclovir (alta dose): opção em rins quando VGCV não é tolerado; maior carga de comprimidos e efeitos neuropsiquiátricos.
#### Na prática, como escolher?
Profilaxia geralmente é preferida em:
* Transplantes de pulmão, coração ou alto risco (D+/R–, uso de linfodepleção, rejeição tratada).
* Centros sem infraestrutura para monitoramento rigoroso e resposta rápida.
Preemptivo é viável em:
* Pacientes estáveis com risco intermediário (ex.: R+) e quando há capacidade de monitoramento semanal e resposta imediata.
* Em transplantados de rins e fígado: ambas as estratégias são eficazes — devemos adaptar à realidade do centro e perfil do paciente.
* Em pulmão/coração: profilaxia tende a ser mais segura, especialmente em D+/R–.