O cuidado reprodutivo na doença renal policística autossômica dominante (DRPAD) deve ir além do planejamento gestacional. A escolha adequada do método contraceptivo impacta diretamente na progressão da doença hepática policística (DHP)associada e deve ser feita com base no fenótipo/perfil hepático de cada paciente. O novo guideline KDIGO 2025 traz atualizações valiosas para o manejo clínico de mulheres com DRPAD em idade fértil.
#### Recomendações sobre anticoncepção na mulher com DRPAD
A contracepção deve ser abordada de forma personalizada e baseada na presença e gravidade da doença hepática policística, frequentemente associada à DRPAD. O uso de hormônios sexuais femininos, especialmente estrogênios, tem papel relevante na progressão da DHP, sendo essencial avaliar os riscos envolvidos.
##### 1. Avaliação prévia com imagem hepática
* A escolha do método deve considerar a presença de cistos hepáticos e o volume hepático total (idealmente por ressonância magnética com volumetria).
* Não há sistema de estadiamento formal da DHP, mas o guideline recomenda individualizar a escolha contraceptiva com base na gravidade estimada da doença hepática.
##### 2. Métodos hormonais combinados (estrogênio + progesterona)
* Podem ser utilizados com cautela em mulheres sem DHP ou com DHP leve.
* Preferir formulações com baixa dose de etinilestradiol (10–35 µg).
* Métodos transdérmicos e anéis vaginais evitam o metabolismo hepático de primeira passagem e podem ter menor impacto na progressão da DHP, apesar do maior custo e menor disponibilidade no SUS.
##### 3. Métodos exclusivamente com progestágenos
* Incluem pílulas, injeções, implantes e DIUs com levonorgestrel.
* A exposição sistêmica ao levonorgestrel via DIU é 4–13% da observada com contraceptivos orais combinados, o que sugere segurança superior.
* Embora existam dados de que progestinas possam estimular colangiócitos, não há associação robusta com aumento de volume hepático em humanos, sendo considerada uma alternativa segura na maioria dos casos.
4. Métodos não hormonais
* São os mais seguros para pacientes com DHP moderada a grave.
* Incluem preservativos, diafragmas, espermicidas, esponjas vaginais e DIU de cobre.
* Embora menos eficazes em geral (exceto o DIU de cobre), devem ser fortemente considerados em pacientes com DHP avançada.
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5. Atenção ao uso de estrogênios após a menopausa
* A terapia de reposição hormonal com estrogênio está associada ao aumento significativo do volume hepático em mulheres com DRPAD e deve ser evitada sempre que possível.
* Alternativas não hormonais devem ser discutidas com ginecologistas em pacientes sintomáticas.
####  Resumo prático para o nefrologista
A escolha do anticoncepcional em mulheres com DRPAD deve considerar o risco de progressão da DHP associado ao estrogênio e, em menor grau, à progestina. Métodos não hormonais e progestagênicos isolados (como o DIU de levonorgestrel) são preferidos em pacientes com DHP moderada ou grave. A decisão deve ser compartilhada com a paciente e, idealmente, com o suporte de imagem hepática para guiar a conduta de forma segura e eficaz.