Apesar de amplamente utilizada na prática clínica, a albumina intravenosa ainda é frequentemente prescrita com base em hábitos institucionais ou benefícios fisiológicos, muitas vezes sem o devido respaldo das evidências científicas. Esse artigo publicado no JASN (link) revisa de forma crítica as principais indicações e limitações do uso da albumina em contextos nefrológicos.
Relembrando: a albumina possui diversas vantagens fisiológicas, 1g de albumina atrai 18 mL de água, resultando em expansão vascular (cerca de 1,5:1) devido seu efeito oncótico. Apesar de não serem esperados efeitos colaterais graves, anafilaxia e trombose (devido dilução dos fatores de coagulação) podem acontecer.
Vamos aos principais pontos abordados pelo artigo:
#### 1. Ressuscitação volêmica em pacientes críticos
O uso de albumina em pacientes críticos com choque séptico foi avaliado em grandes estudos como SAFE e ALBIOS. Os resultados não demonstraram benefício significativo em mortalidade, injúria renal aguda (IRA) ou outros desfechos clínicos relevantes em comparação com soluções cristaloides. Assim, embora o uso de albumina possa ser considerado em pacientes refratários a grandes volumes de cristaloides, a evidência é fraca e sua adoção deve ser cautelosa. O Surviving Sepsis Campaign guidelines (2021) recomenda seu uso apenas quando grandes volumes de cristaloides são necessários.
#### 2. Uso durante a diálise
O uso de albumina como estratégia para prevenir hipotensão intradialítica tem sido descrito em estudos pequenos e não randomizados, com resultados favoráveis sobre pressão arterial e volume ultrafiltrado. Um único estudo randomizado em 65 pacientes que possuíam albumina <3 g/L, a administração de albumina antes da diálise esteve associada com menor taxa de hipotensão intra-dialítica [[link](https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC7789619/)]

Contudo, os dados são insuficientes para recomendar seu uso rotineiro. Um ensaio clínico em andamento (NCT03330616) poderá esclarecer melhor seu papel em pacientes críticos com LRA em diálise. Apesar disso, outros estudos não demonstraram diferenças em alcançar UF desejadas em pacientes críticos realizando SLED [[link](https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34902089/)].
#### 3. Associação com diuréticos
A combinação de albumina com diuréticos como a furosemida tem base teórica para aumentar a entrega do diurético ao túbulo renal. Entretanto, os estudos não mostram benefício sustentado em aumento da diurese ou melhora clínica. O aumento observado nas primeiras 6 horas não se mantém após 24 horas, sendo o efeito transitório e de pouca relevância clínica no ambiente de terapia intensiva.
#### 4. Uso em cirrose
Há indicações bem estabelecidas para uso de albumina em cirróticos, como a prevenção de disfunção renal após paracentese de grande volume e no tratamento da peritonite bacteriana espontânea (PBE). No entanto, o estudo ATTIRE demonstrou que sua administração para normalizar a albumina sérica em pacientes com cirrose descomensada não trouxe benefício em mortalidade ou disfunção renal e ainda aumentou o risco de sobrecarga volêmica [[link]](https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa2022166). Apesar da albumina seguir sendo uma das opções para síndrome hepatorrenal, ainda carece de forte evidência para outras indicações em cirróticos.
#### 5. Uso em cirurgia cardíaca
O uso de albumina em pacientes submetidos à cirurgia cardíaca é controverso. Revisões sistemáticas não mostram benefícios consistentes em termos de sobrevida, função renal ou tempo de internação. Dado seu alto custo e falta de impacto clínico, a albumina deve ser reservada para situações específicas e bem justificadas.
##### Revisão os níveis de evidência abaixo!

#### Conclusão
Seguindo as diretrizes do International Collaboration for Transfusion Medicine Guidelines (ICTMG), o uso de albumina intravenosa na nefrologia deve ser orientado por diretrizes baseadas em evidências e não apenas por racional fisiológico. Na ausência de benefícios clínicos comprovados, sua prescrição deve ser criteriosa, considerando custo, segurança e efetividade.
O uso de albumina é seguro em algumas situações bem definidas, mas sua eficácia clínica na maioria das situações é limitada. A racionalização de seu uso pode evitar custos desnecessários e riscos associados à sobrecarga volêmica.