##### Por que este tema importa?
Os agonistas do receptor de GLP-1 são cada vez mais prescritos no tratamento do diabetes tipo 2 e da obesidade. Embora seus benefícios metabólicos e cardiovasculares sejam amplamente reconhecidos, é essencial que nefrologistas estejam atentos aos potenciais efeitos renais adversos dessa classe, especialmente em pacientes com risco aumentado como aqueles com doença renal crônica (DRC).
##### GLP-1 e Função Renal: entre casos e evidências
Apesar da segurança renal amplamente demonstrada em grandes estudos clínicos, vários relatos de caso têm associado o uso de agonistas de GLP-1 — especialmente exenatida e, em menor grau, liraglutida — ao desenvolvimento de lesão renal aguda (LRA). Os mecanismos propostos para esse evento incluem:
* Desidratação e contração volêmica, secundárias a efeitos gastrointestinais como náuseas, vômitos e diarreia (atenção redobrada nos pacientes em uso de diuréticos);
* Natriurese e redução da perfusão renal;
* Uso concomitante de inibidores do SRAA, o que limita a capacidade de resposta adaptativa renal;
* Raramente, nefrites intersticiais agudas com comprovação histológica.
Esses quadros ocorrem predominantemente em pacientes com fatores predisponentes como insuficiência cardíaca, uso de diuréticos ou hipovolemia basal. Logo, nos nossos pacientes com DRC, atenção redobrada nos pacientes de maior risco.
##### O que mostram os estudos clínicos?
Embora os relatos chamem a atenção, ensaios clínicos randomizados não mostraram aumento significativo no risco de LRA com o uso de GLP-1 RAs:
Em uma análise agrupada com mais de 5.500 pacientes tratados com exenatida, a incidência de eventos renais foi baixa e comparável ao grupo controle.
Estudos observacionais e metanálises também não demonstraram aumento do risco de LRA com exenatida ou liraglutida.
Ainda assim, os autores recomendam cautela na indicação dos GLP-1 RAs para pacientes com depleção volêmica ou que já utilizam outras medicações nefrotóxicas.
Condutas Práticas para o Nefrologista
1. Evite iniciar GLP-1 RAs em pacientes com sinais de desidratação ou sintomas gastrointestinais importantes.
2. Reavalie a necessidade de manter reduzir diuréticos concomitantemente, especialmente na fase inicial.
3. Oriente o paciente a suspender o uso do GLP-1 RA se desenvolver vômitos ou diarreia persistentes.
4. Considere função renal basal e fatores de risco para LRA antes da prescrição.
Em casos de LRA sem causa evidente, considere nefrites intersticiais e avalie indicação de biopsia, são casos muito raros, mas vale a lembrança!
Artigo de referencia: Adverse Effects of GLP-1 Receptor Agonists, The Review of DIABETIC STUDIES, 2014 [[link](https://pmc.ncbi.nlm.nih.gov/articles/PMC5397288/pdf/RevDiabeticStud-11-202.pdf)]