###### **Referência do artigo:**
Xu J, Sun A, Yang Y, et al. Risk of Urinary Tract Infections with Sodium-Glucose Transport Protein-2 Inhibitors in Subpopulations with Abnormal Genitourinary Pathology. Clin J Am Soc Nephrol. 2025;20(6):820-828. doi:10.2215/CJN.0000000687
###### **CASO CLÍNICO**
Seu Antônio, 62 anos, DM2 e hipertenso, é acompanhado em seguimento nefrológico por nefropatia diabética com TFGe de 48 mL/min e RAC de 580 mg/g. Ele mantém bom controle glicêmico com metformina e quer evitar progressão da DRC.
***Mas há um detalhe***: ele é portador de bexiga neurogênica e faz cateterismo intermitente com sonda de nelaton 4 vezes ao dia. Já teve alguns episódios de ITU — mas todas de cultura negativa ou crescimento de cândida.
###### **E agora, doutor(a)? **
Você inicia uma gliflozina ou opta por outro antidiabético como o agonista de GLP-1? Será que o risco de ITU vai aumentar??
###### **QUE O ESTUDO QUIS RESPONDER?**
Este estudo do CJASN analisou se o uso de iSGLT2 aumenta o risco de ITU e se isso depende do tipo de infecção (bacteriana ou por cândida). Também avaliou se há risco adicional em pacientes com alterações urológicas, como bexiga neurogênica, sonda vesical, infecções prévias ou câncer do trato GU. Foi comparado com o uso do agonista do receptor de GLP-1, também indicado na DRC diabética (como vocês já sabem)
###### **RESULTADOS PRINCIPAIS**
Estudo com mais de 270 mil pacientes, comparando iSGLT2 com agonista-GLP-1:
**ITU por cândida: significativamente mais comum com iSGLT2.**
* HR ajustado entre 2,2–3,5, p < 0.001.
* Risco maior mesmo nos pacientes com alterações urológicas, como nosso paciente com cateterismo intermitente.
**ITU bacteriana (não-cândida): levemente menos comum com SGLT2i.**
* HR ajustado em torno de 0,91, p < 0.001.
**Infecções genitais (GeI): dobraram com iSGLT2 (HR >1,99).**

Incidência cumulativa de ITUs não causadas por cândida após a exposição. P, valor de P do teste de log-rank.
###### **PACIENTES COM CATETERISMO OU OUTRAS ALTERAÇÕES UROLÓGICAS**
O estudo agrupou pacientes com:
* ITUs prévias
* Infecções genitourinárias prévias
* Uso crônico de sonda (inclusive intermitente)
* Patologias GU como estenose uretral, cistocele ou bexiga neurogênica
* Neoplasia geniturinária
Nesses pacientes:
* O risco de ITU bacteriana não aumentou com iSGLT2, apesar do risco basal já ser elevado.
* Mas o risco de ITU por cândida foi maior com iSGLT2 — risco somado ao da alteração GU.
###### **INSIGHTS PRÁTICOS PARA O NEFROLOGISTA**
Se o paciente tem histórico de infecção por cândida ou colonização fúngica do trato urinário (como no caso do seu Antônio), ou se tem bexiga neurogênica, reflita com mais critério antes de iniciar uma gliflozina.
Por outro lado, se o histórico for de ITU bacteriana comum (E. coli, por exemplo), mesmo com cateterismo, o risco não aumenta com iSGLT2.
Este estudo ajuda a personalizar a escolha entre iSGLT2 e agonista-GLP-1 de forma mais precisa e segura — não apenas com base na função renal, mas também no perfil urológico.
###### **MENSAGEM FINAL DO NEFROATUAL**
Com o avanço das gliflozinas como ferramenta essencial na nefroproteção, entender os perfis de risco infeccioso é essencial! Este estudo mostra que o real problema são as infecções por cândida, especialmente em pacientes com alterações geniturinárias.
Para pacientes com cateterismo intermitente, o risco de ITU fúngica aumenta com iSGLT2, mas o risco de ITU bacteriana não. E ai? Isso muda sua conduta?
E você, já usou gliflozina em paciente com cateterismo ou cistites fúngicas? Optou por outra droga?
Comenta aqui ou compartilha esse conteúdo com alguém que prescreve SGLT2i com medo excessivo de ITU!