Uma mulher de 55 anos com insuficiência renal causada por GESF foi submetida a transplante renal em 1989. Após falência crônica do enxerto, retornou para hemodiálise (HD) em 2020. Após 2 anos do tratamento de HD, apresentou hematúria macroscópica isolada por três dias consecutivos, sendo afastado quadro de infecção urinária. Em abril de 2022, exames de rotina revelaram hipereosinofilia grave (3.300/mm³), elevação de proteína C-reativa (41 mg/L) e leucocitose (12.000/mm³). O paciente não tinha histórico de alergias. Pesquisa de parasitoses intestinais e anticorpo citoplasmático anti-neutrófilo foi negativa; imunofenotipagem de linfócitos e a concentração de IgE foram normais.
Foi realizado PET-CT que demonstrou atividade metabólica intensa no córtex do enxerto renal, sugerindo um quadro de rejeição aguda.
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A biópsia do enxerto evidenciou inflamação intersticial significativa com infiltração por eosinófilos e linfócitos, glomerulite severa (g3), capilarite peritubular (ptc3) e contornos duplos na membrana basal glomerular (cg1). A coloração C4d foi positiva, confirmando rejeição mediada por anticorpos crônica ativa rica em eosinófilos.
Diante do quadro foi realizado a retirada do enxerto renal, sendo observado normalização da contagem de eosinófilos no sangue após duas semanas.
Os eosinófilos são atualmente reconhecidos como células imunorreguladoras, com funções na apresentação de antígenos, regulação de células T, ativação de células B e modulação de mastócitos, dendrócitos, basófilos e neutrófilos. Eles estão associados à rejeição aguda de alotransplantes, mediada por células Th2 CD4+, que atuam na via alternativa de rejeição. Citocinas como IL-5, liberadas por linfócitos T ativados, recrutam eosinófilos durante a rejeição aguda. Em modelos experimentais de transplante cardíaco em camundongos, a rejeição mediada por Th2 mostrou intensa infiltração eosinofílica no enxerto.
Pontos de aprendizado:
1. Hipereosinofilia em pacientes transplantados deve incluir rejeição como diagnóstico diferencial, mesmo após falência do enxerto e início da hemodiálise.
2. Marcadores como C4d e infiltração eosinofílica podem confirmar rejeição mediada por anticorpos.
3. Este caso ilustra a importância do monitoramento contínuo em pacientes com falência de enxerto renal.
Caso clínico disponível no Kidney 360 ([link](https://journals.lww.com/kidney360/fulltext/2024/11000/hypereosinophilia_in_a_patient_with_kidney.25.aspx))