##### **Caso clínico de abertura**
Homem, 58 anos, DM2, DRC G3bA3 (TFGe 38 mL/min/1,73m²; RAC 900 mg/g), PA controlada em uso de BRA + iSGLT2, IMC 34 kg/m². Proteinúria persiste >0,5 g/d apesar de otimização. Pergunta no consultório: “Doutor, meu endócrino sugeriu semaglutida pelo peso… isso ajuda meus rins também?”
##### **O que a meta-análise investigou? **
Foram reunidos 19 ensaios clínicos randomizados (cerca de 90 mil pacientes, seguimento médio de 26 meses) para avaliar se agonistas do receptor de GLP-1 (GLP-1RA) melhoram desfechos renais em pessoas com e sem diabetes. Entraram estudos importantes como FLOW (semaglutida em DM2+DRC), SELECT (obesidade sem diabetes, alto risco cardiovascular) e SMART (obesidade + DRC sem diabetes).
##### **Vamos fazer uma bate bola com as perguntas que você faria e as respostas que o estudo traz?**
**1) GLP-1RA realmente protegem o rim?**
Sim. Houve redução significativa no desfecho renal composto (piora da função, progressão de albuminúria ou falência renal).
###### **2) E quanto à TFGe e à albuminúria?**
A perda anual de TFGe foi mais lenta e houve redução de progressão de albuminúria.
###### **3) Previnem falência renal (TRS/TFGe \<15)?**
Ainda não. Não houve diferença estatística para esse desfecho mais duro — provavelmente por baixa taxa de eventos e porque a maioria dos estudos excluiram pacientes com TFGe \<30.
###### **4) O benefício depende de ter diabetes?**
Não. O efeito foi semelhante em diabéticos e não diabéticos.
###### **5) E os desfechos cardiovasculares e mortalidade?**
Houve redução de eventos cardiovasculares maiores e de mortalidade global.
###### **6) Segurança: devo me preocupar com IRA, hipoglicemia ou eventos graves?**
O perfil global é favorável, sem aumento de eventos renais agudos. O principal efeito adverso foram sintomas gastrointestinais.
###### **7) Todos os GLP-1RA são iguais?**
O benefício renal foi mais consistente com semaglutida.
##### **Como isso muda minha prescrição no dia a dia?**
###### **Quando considerar GLP-1RA na nefro:**
• Após otimizar o “feijão com arroz” da DRC proteinúrica (BRA/ARA2 em dose alvo + iSGLT2). Persistindo albuminúria, o GLP-1RA pode ser adicionado.
• Em pacientes sem diabetes, mas com DRC e/ou obesidade, a evidência emergente já sugere benefício cardiorrenal.
• Nos estágios mais avançados (TFGe \<30), os dados são limitados — cuidado com expectativas.
###### **Como conversar com o paciente:**
• “Ajuda a reduzir a proteinúria e a desacelerar a perda da função renal, mas ainda não temos prova concreta de que evita a diálise.”
• “Oferece ainda proteção cardiovascular e perda de peso.”
• “O ponto de atenção são os sintomas gastrointestinais; vamos começar devagar e ajustar conforme tolerância.”
###### **Escolhas práticas:**
• A semaglutida é a droga com maior consistência nos resultados.
• Pense em um “coquetel cardiorrenal” ou terapia quádrupa como falamos em postos recentes aqui no nefroupdates: BRA + iSGLT2 + GLP-1RA (quando indicado), com possibilidade de adicionar finerenona em diabéticos com albuminúria persistente.
• Monitorize peso, tolerância GI, evolução da TFGe e da RAC.
###### **Voltando ao caso**
Nosso paciente com DRC G3bA3, obeso e com albuminúria persistente apesar de BRA e iSGLT2, é um forte candidato à semaglutida. O benefício principal esperado é redução da albuminúria, perda ponderal e proteção cardiovascular. Importante alinhar que ainda não há prova de evitar TRS, e os efeitos gastrointestinais exigem titulação lenta (funtamental para a adesão em curto prazo).

##### **Mensagem final do NefroAtual **
Os GLP-1RA entram de vez no arsenal cardiorrenal: reduzem albuminúria, desaceleram a queda da TFGe e ainda trazem bônus cardiovascular. O grande “porém” é que ainda não sabemos se conseguem evitar a diálise.
**E você? Já prescreveu GLP-1RA pensando mais na proteção renal do que no controle glicêmico? O que observou na sua prática?**