O uso dos inibidores do cotransportador sódio-glicose 2 (SGLT2i) revolucionou o manejo do diabetes tipo 2, insuficiência cardíaca e doença renal crônica. Contudo, seu emprego no período perioperatório levanta preocupações específicas.
📚 **Referência**: Narrative review on peri-operative SGLT2i management. Anaesthesia. 2023;78:1419-1430 **\[[link](https://associationofanaesthetists-publications.onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/anae.16461)]**. 🔗
###### **Principais achados e fisiopatologia**
• O risco mais relevante é a cetoacidose euglicêmica (CAD), complicação rara, mas grave.
• A fisiopatologia envolve aumento da cetogênese induzida pela redução da insulina e incremento do glucagon, somados ao estresse cirúrgico e ao jejum prolongado.
• Diferente da CAD clássica, a CAD euglicêmica pode ocorrer com glicemia normal ou discretamente elevada, dificultando o diagnóstico.
• Casos foram descritos em praticamente todas as especialidades cirúrgicas, inclusive em pacientes sem diabetes.
###### **Implicações clínicas - o que fazer! **
• Suspensão prévia: recomenda-se interromper o iSGLT2 72 horas antes de cirurgias eletivas (≈5 meias-vidas).
• Cirurgia de urgência ou uso \<72h: monitorar cetonemia/cetonúria pré, intra e pós-operatória (idealmente a cada 6h por 24h) – difícil na nossa prática hospitalar!
• Retomada do tratamento: somente após retorno da dieta oral completa e ausência de cetose.
• Pacientes com diabetes mal controlado, insuficiência cardíaca ou DRC necessitam discussão multidisciplinar (endocrinologia, anestesia, cardiologia, nefrologia).
###### **Guidelines e controvérsias para lembrarmos!**
• As diretrizes atuais são heterogêneas, o que pode gerar insegurança na prática.
• Enquanto algumas sugerem suspensão apenas no dia da cirurgia, outras defendem intervalos maiores.
• O racional farmacocinético (5 meias-vidas) respalda a suspensão de 72h como a conduta mais segura.
###### **Conclusão**
✅ O uso de SGLT2i no perioperatório exige vigilância redobrada devido ao risco de EKA.
✅ A conduta prática é suspender 72h antes de cirurgias eletivas e garantir monitoramento intensivo de corpos cetônicos em situações de urgência.
✅ Retomar apenas após recuperação nutricional plena e ausência de cetose.
❌ Não seguir essas orientações pode levar à falha diagnóstica, atraso terapêutico e maior risco de complicações graves.